Astrônomos testemunharam um evento cósmico surpreendente: uma estrela que sobreviveu, ainda que parcialmente, a um encontro gravitacional extremo com um buraco negro supermassivo. O fenômeno, conhecido como ‘espaguetificação’, ocorre quando a intensa força gravitacional de um buraco negro estica e deforma um objeto que se aproxima, assemelhando-o a um espaguete cósmico. Tradicionalmente, acreditava-se que esse processo era fatal para a estrela, mas novas observações desafiam essa premissa.
Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel, lideraram um estudo que identificou o primeiro caso confirmado de uma estrela que não apenas sobreviveu a um evento de espaguetificação parcial, mas também retornou ao local do ‘crime’ cerca de 700 dias depois para uma nova dose de destruição. A equipe analisou dados de flares cósmicos, conhecidos como eventos de disrupção de maré (TDEs), que ocorrem quando um buraco negro destrói uma estrela. O que chamou a atenção dos astrônomos foi a similaridade entre dois flares, AT 2022dbl, detectados no mesmo local com um intervalo de dois anos. Após descartarem outras explicações, como flares não relacionados ou lentes gravitacionais, os cientistas concluíram que a mesma estrela havia sido parcialmente despedaçada duas vezes.
Essa descoberta implica que a espaguetificação pode não ser um processo terminal para todas as estrelas. Iair Arcavi, supervisor da pesquisa, explica que a parte externa da estrela, menos densa, é mais suscetível a ser ‘espaguetificada’, enquanto o núcleo mais denso pode resistir se a estrela mantiver uma certa distância do buraco negro. O fenômeno levanta novas questões sobre a dinâmica dos buracos negros e seus encontros com estrelas, desafiando modelos computacionais anteriores que sugeriam que a maioria dos TDEs seriam mais intensos. A pesquisa agora se concentra em determinar se a estrela sobrevivente continuará sua órbita perigosa e retornará para mais ‘abuso’ cósmico, ou se este será seu último encontro com o buraco negro.
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